Neste e-book o Instituto Mame Bem veio falar de um tema muito importante:
A forma como mulheres são retratadas pela sociedade ao longo dos séculos é uma história contada por outros. Foram homens que retrataram, escreveram e definiram como seria contada a história feminina. Existem várias histórias de mulheres perdidas, que são recontadas aos poucos, por outras mulheres.
Retratos sempre foram um sinônimo de poder. Até a Idade Média, retratavam Deus e santos católicos, comissionados pela Igreja. Com o Renascimento, eram exclusivos dos ricos e poderosos, capazes de pagar pelo trabalho do artista. Essa história, geralmente deixa de fora mulheres, crianças e outras minorias, sendo raras as suas aparições, especialmente como artistas.
Assim, a maioria dos autores, fotógrafos e artistas que contaram a história feminina foram homens. Essa realidade está mudando aos poucos. Desde a década de 1960 temos mais produções femininas nas artes, mais representatividade na música, na academia e na fotografia. O avanço das tecnologias, tornando-as mais acessíveis e a existência da internet possibilitam que cada vez mais mulheres produzam, divulguem e possam ser reconhecidas pelo seu trabalho, nos afastando de um período onde era necessário usar pseudônimos masculinos e a assinatura de maridos, editores e companheiros nas produções de mulheres.
Com este e-book o Instituto Mame Bem te convida a conhecer mais sobre as mulheres que desafiaram seu tempo, registraram sua marca na História da Arte e que abriram portas para que nossas vidas e afetos possam ser eternizados pelo seu olhar. Esperamos que você também conte a sua história e sua vida para o mundo, com uma perspectiva crítica e desafiadora.
Vamos começar com o vídeo, da Chimamamnda Ngozi Adichie, escritora nigeriana que apresenta um TED Talk sobre a necessidade de expandirmos a nossa visão de mundo, contada por quem a vive:
A arte, até a Idade Média europeia, era muito mais à retratar Deus e santos católicos, comissionados pela Igreja. A Madonna e o Menino Jesus são um modelo muito comum na história da arte, e existe uma grande tradição na sua representação. A Idade Média teve diversos modelos e possibilidades de organização social, mas é possível recortar essa característica de uma arte muito voltada para a representação do divino, dos santos. Em algumas obras, aparecem os doentes e banqueiros, que encomendavam as obras e poderiam aparecer nelas, como forma de intermédio com o divino pelo perdão de seus pecados.
Era uma sociedade patriarcal e mulheres eram muitas vezes vistas como frágeis, que deveriam ser guiadas, cuidadas, e muitas vezes tidas como malévolas, a exemplo de Eva. Historiadoras mais recentes questionam esta visão do feminino como sendo intrinsecamente submisso na Idade Média e contam histórias de mulheres artistas, médicas, artesãs e intelectuais que cuidaram de suas propriedade, negavam a maternidade ao se juntar ao clero e atingiam grande sugesso… É o perigo de ouvirmos uma única história, como nos disse a Chimamanda no nosso primeiro vídeo. Mulheres, das quais não temos registro, foram responsáveis por boa parte da estrutura camponesa medieval e possuíam grandes feitos, como o de Joana D’Arc, Hildegarda de Bingen, Catarina de Médici e várias outras.
No Renascimento, onde a sociedade se volta novamente para o humano e passam a existir retratos e representações mais anatomicamente adequadas e relacionadas ao mundo terreno. Retratos femininos se tornaram populares para fins de casamento, que eram arranjados, mas uma boa representação era exclusiva aos ricos e poderosos, capazes de pagar pelo trabalho do artista, que levava dias para terminar uma obra. Várias destas representações sobreviveram até os dias de hoje, no entanto a época e sua narrativa muitas vezes deixa de fora mulheres, crianças, e outros grupos minoritários, sendo menos comuns suas aparições como retratadas. É importante falar que, sociedades e artes indígenas e africanas, as principais influências da cultura brasileira junto com a europeia, seguem com valores e culturas diferentes e não vamos abordar elas aqui.
Por que não temos muitas mulheres artistas famosas? Para as mulheres, o estudo da pintura com modelos masculinos e grandes mestres era proibido, impossível ou mais caro. Era uma profissão mais característica de homens, e artistas retratistas mulheres aparecem como exceções. Não deixaram de existir, conseguir fama e popularidade, mas eram menos comuns e precisavam enfrentar mais dificuldades até o reconhecimento. Apesar dos séculos, até hoje artistas masculinos possuem maior visibilidade. Para melhorar essa falta de mulheres artistas, existem várias iniciativas, sendo uma das mais famosas o coletivo de arte, chamado Guerrilla Girls, formado em 1985 em NY e que sque denuncia a baixa representatividade nas artes, sempre vestidas com uma máscara de gorila. Confira a imagem da exposição do grupo no Museu de Arte de São Paulo – MASP, de 29/9 a 14/02/2018:
Mulheres aparecem muito na arte retratadas de forma documental, ou de forma sensualizada. Como o pôster do Guerrilla Girls denuncia, é necessário aumentar a diversidade nas artes e mostrar algo além dos nus. A fotografia é essencial neste processo: com a popularização da técnica, permite o acesso de grupos e estilos de vida que antes não possuíam sua imagem retratada.
Essa demora no acesso à fotografia criou uma subrepresentação imagética própria de mulheres e famílias. Só no século XXI esse grupo é capaz de ter seus registros de cotidiano e costumes, através das redes sociais. O que é arte e o que é registro ocupa uma fronteira tênue, uma discussão tão antiga quanto o surgimento das técnicas de fotografia, mas cada foto tirada por uma mulher, sobre mulheres, é uma forma de aproximação da construção social do feminino.
Retrato: A representação de uma pessoa, feita por um terceiro.
Autorretrato: A representação do artista, feita pelo próprio artista.
Selfie: A representação de uma pessoa, feita pela própria pessoa.
Uma selfie e um autorretrato não são a mesma coisa, e esta fronteira, como tudo na arte, é frequentemente explorada como tema de discussão e questionamentos. São idênticos na possibilidade de o próprio indivíduo se retratar, e ter controle sobre a sua própria imagem, diferentemente de um retrato, que é feito sempre por um terceiro. Antes da fotografia, apenas algumas mulheres de famílias poderosas encomendavam seus retratos a pintores. Foram poucas, já que retratos eram símbolo de status e poder. O retrato tinha funções políticas, econômicas ou sociais e era muito mais comum para homens da elite, monarquia ou clero. Não necessariamente deveria retratar fidedignamente, mas criar uma imagem de autopromoção agradável para quem encomendou a obra.
Não é objetivo deste e-book definir o que é arte e o que não é, e nem acompanhar a história da fotografia ou da arte, mas sim, falar da representação feminina, seus retratos e a importância da voz, olhar e impressões das mulheres no mundo.
A fotografia surge como técnica, e logo influencia a arte e toda a história mundial. Na pintura, a fotografia rompe a necessidade de representação exata do real, na publicidade ela abre caminhos ao ser utilizada como base para ilustrações, em um estilo próprio, na literatura ela dispensa a necessidade de grandes descrições, toda a humanidade pode ver cenas históricas, reconstruções de histórias e os rostos amados, a um valor muito mais acessível. A fotografia se populariza pelo mundo, e permite que famílias, grupos e estilos de vida que antes não possuíam sua imagem retratada possam ser registrados.
Já ouviu falar de Lee Miller?
A fotógrafa estadunidense tem uma história e tanto para contar. Sua paixão e trabalho, mudaram o mundo, para todas as mulheres. A infância de Lee foi difícil: aos sete anos, ela sofreu um estupro. Sua família a incentivou na carreira de modelo, como forma de ganhar controle sobre o seu próprio corpo e se recuperar do trauma. Logo Lee se tornou uma das maiores modelos na década de 1920 nos Estados Unidos, mas ter sua imagem em uma propaganda de absorventes femininos fechou as portas de novos contratos por algum tempo. Mudou-se então para Paris, para estudar Fotografia, onde tornou-se musa e amiga de diversos artistas como Man Ray, Picasso, Cocteau… Abriu seu estúdio de fotografia em NY nos anos 30, em um momento de crise mundial, e conseguiu absurdo sucesso. Morou no Cairo, fotografou o deserto, e ficou (mais) famosa por se tornar uma fotógrafa durante a Segunda Guerra Mundial.
Lee Miller conquistou um enorme espaço para que mais mulheres pudessem ter seu trabalho reconhecido no meio artístico e intelectual. Sua foto tirada na banheira de Hitler, no mesmo dia em que ele acabava com sua vida, virou um ícone da liberdade. Lee também foi mãe, e se retirou para o interior para cuidar melhor de seus filhos, estudando culinária em seguida. Ficou curiosa? Conheça a bela homenagem e biografia feita pela Vogue.
Existe a fotografia jornalística, que denuncia absurdos da sociedade, dá cara, voz, humaniza as perspectivas e experiências únicas que chegam aos noticiários como registro e parte de uma mudança… Mas toda fotografia é potencialmente importante. Ela permite o acesso, para que mulheres, pessoas negras, pobres, LGBTQIA+ ou com deficiências possam ser retratadas e que possam contar ao mundo a história que desejam de suas próprias vidas e perspectivas. Cada olhar é único e não é mais necessário ser parte da elite intelectual ou econômica para ter acesso à retratos de boa qualidade, para ter sua imagem registrada, e contar a sua história. A possibilidade de autonomia e controle da própria narrativa é essencial para as mulheres. Atualmente existem prêmios e publicações específicas para incentivar registros familiares, LGBTQIA+, de idosos, as possibilidades são inúmeras. A foto do avô abraçando o neto, pela fotógrafa Flávia Almeida, é um destes exemplos. E estas fotos mudam o mundo.
Antes se achava que mães que cuidam dos filhos em casa eram desocupadas. Hoje já se sabe que é um grande trabalho cuidar de uma criança, que é importante ter um ambiente saudável. A representatividade também cresce com as redes sociais, que divulga imagens e histórias por seus próprios autores. Cenas de família e cotidiano entram em cena e ganham popularidade, e se tornam um desejo cada vez mais comum às mulheres: qual mãe nunca pediu alguém não capacitado para tirar uma foto, que ficou horrível, e no final preferiu fazer uma selfie para registrar o momento? Registros importam.
Há uma enorme discussão sobre a fotografia comercial e a artística. Para alguns, a fotografia comercial tem fins apenas lucrativos, e a artística traz sentimentos, quer mudar a visão de mundo de quem a está vendo. Entretanto a cultura hipermidiatizada atual torna estas linhas cada vez mais tênues. É difícil escolher um ponto quando toda imagem é capaz de provocar mudanças importantes na sociedade. A mídia de massa é poderosa e capaz de promover modelos de identificação e de comportamento, que pode reforçar ou quebrar estereótipos na sociedade.
Você conhece a Campanha pela Real Beleza da Dove? Lançada em 2004, ela mostra mulheres do dia a dia sem o uso de Photoshop e maiores edições nas campanhas. Segundo Sophie Galvani, VP global de Dove:
“Cada mulher tem a sua própria história: algumas têm descoberto uma nova confiança com a idade, enquanto outras estão aprendendo sobre a real beleza através das lentes da maternidade”, disse Sophie. “Algumas mulheres têm lutado para ser diferente, enquanto outras nunca tentaram se encaixar. Todas as mulheres têm alguma coisa em comum: a sua única e real história de beleza”.
A campanha é feita com atenção aos detalhes: As fotos são feitas por fotógrafos profissionais, mas as modelos são mulheres comuns, não modelos profissionais, magras e altas. Uma pesquisa feita por Harvard e financiada pela Unilever, prova que a campanha é eficaz em melhorar a autoestima das mulheres. “De acordo com pesquisa da psicóloga de Harvard, Nancy Etcoff, que examinou as campanhas, as mulheres passaram a definir a beleza em uma ampla gama de qualidades que vão além dos olhares, incluindo, por exemplo, a autoconfiança. Entre outras questões, a psicóloga também concluiu que agora as mulheres baseiam suas ideias sobre beleza muito mais usando as referências em mídias sociais do que os meios tradicionais.” A pesquisa foi financiada pela Unilever.
A fotografia de família é uma possibilidade relativamente recente na história da humanidade. Se em alguns momentos foi possível reproduzir a mesma técnica para todas as pessoas, hoje a diversidade e a personalização exigem mais conhecimentos e dedicação. É importante registrar as características individuais de cada família, a atmosfera, suas necessidades únicas. A tecnologia também avançou, com possibilidades e exigências cada vez maiores, e resultados impressionantes. As fotos de família passam a contar histórias poderosas, registros não só do mundo ideal, mas da realidade de cada pessoa.
A popularização das fotos de parto faz com que cada vez mais mulheres acreditem que um parto pode ser um evento agradável, respeitoso e seguro. Com as imagens, elas se sentem seguras para trabalhar seus medos de um parto violento e cheio de intervenções desnecessárias. O retorno ao registro de amamentação incentiva a conversa sobre o aleitamento materno, e estimula que mães que passam por dificuldades peçam ajuda. Cada bebê e família fotografados em um ambiente seguro e feliz, ajudam a eliminar o preconceito com as pessoas que escolheram um caminho importante e necessário para elas, em diferentes configurações familiares. Seu olhar é capaz de encontrar ângulos, luz, formas e cores que ajudem a transmitir toda a emoção deste momento. É capaz de deixar uma marca forte, e ressignificar o que é ser mulher. Como mostramos acima, em fotos comerciais ou não, seu olhar também muda o mundo.
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